Finanças
8 min de leitura

P&D em rede: estratégias para desbloquear oportunidades e aumentar a eficiência do investimento

A inovação em rede é essencial para impulsionar P&D e enfrentar desafios globais, como a descarbonização, mas exige estratégias claras, governança robusta e integração entre atores para superar mitos e maximizar o impacto dos investimentos em ciência e tecnologia
Com base nos seus mais de 175 anos de história, a Deloitte é a organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, com cerca de 460 mil profissionais, gerando impactos em mais de 150 países e territórios. A empresa fornece serviços de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria empresarial, assessoria financeira e consultoria em gestão de riscos para quase 90% das organizações da lista da Fortune Global 500® e milhares de outras empresas. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é líder de mercado, com mais de 7.000 profissionais e operações em todo o território nacional, a partir de 18 escritórios.

Compartilhar:

Por Clarisse Gomes, sócia de Innovation & Ventures na Deloitte, professora de inovação na FDC e membra do fórum de tecnologias emergentes da OECD.

Se houve um tempo em que as principais inovações vinham de departamentos altamente sigilosos de grandes organizações, hoje não há dúvidas de que um posicionamento estratégico em rede é fundamental para aumentar a eficiência dos investimentos em P&D. Dados recentes do Global Innovation Index (2024) indicam que apesar dos desafios econômicos globais, a colaboração em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a formação de clusters de ciência e tecnologia são fundamentais para sustentar e impulsionar a inovação.

Quando falamos dos grandes desafios de negócio, como a resiliência e a descarbonização da produção, o P&D é uma esteira essencial. Estima-se que cerca de 75% das tecnologias necessárias para atingir emissões líquidas zero até 2050 ainda precisam ser desenvolvidas ou amplamente comercializadas (Statista, 2024). Nesse cenário, as redes de inovação tornam-se cruciais para acelerar o progresso e disseminar soluções em escala.

Embora muitas organizações tenham incorporado a mentalidade de inovação aberta, o posicionamento em rede ainda é frequentemente reduzido a uma abordagem simplista. Alguns acreditam que basta associar-se a um ambiente de inovação. Outros entendem que a colaboração automaticamente diluirá as vantagens competitivas devido a conflitos relacionados à propriedade intelectual. Além disso, desafios de orquestração e a falta de alinhamento com o negócio principal comprometem frequentemente a captura de valor, mesmo com equipes altamente qualificadas.

Um exemplo emblemático é o Palo Alto Research Center (PARC), da Xerox. Originalmente concebido como um centro de excelência para soluções de futuro, o PARC enfrentou dificuldades em alinhar inovações disruptivas com a estratégia corporativa da Xerox. Como resultado, invenções como a interface gráfica e o mouse foram capitalizadas por outras empresas, como Apple e Microsoft. Em 2023, o PARC foi doado para a Universidade de Stanford, simbolizando um encerramento que reflete décadas de desafios na integração de P&D estratégico com criação e captura de valor.

Desmistificando a inovação em rede

Muitos mitos cercam o tema da inovação em rede, dificultando sua implementação efetiva. Abaixo, esclarecemos alguns dos mais recorrentes:

  • Para inovar em rede, basta se associar a múltiplos ambientes de inovação

Esse é um dos equívocos mais comuns sobre a inovação em rede. Associar-se a hubs, parques tecnológicos ou ecossistemas de inovação é apenas um passo, mas não garante automaticamente resultados significativos em termos de P&D ou competitividade.

Para que a inovação em rede seja eficaz, é fundamental estabelecer processos estruturados e objetivos claros para as colaborações. Isso inclui a definição de instrumentos de governança, métricas de desempenho, acordos sobre a propriedade intelectual e alinhamento estratégico com o negócio principal. Sem essas condições, as interações podem se tornar superficiais e não gerar valor real. Além disso, a falta de integração entre os diferentes atores em um ecossistema pode resultar em redundâncias ou em iniciativas desalinhadas, prejudicando o impacto potencial das parcerias.

  • 100% do portfólio de P&D precisa ser desenvolvido de forma colaborativa.

Cada roadmap de P&D deve considerar as características das rotas tecnológicas e as estratégias de propriedade intelectual associadas. Enquanto algumas iniciativas se beneficiam de parcerias intensivas, outras podem exigir abordagens mais reservadas para proteger ativos estratégicos.

No estudo “Valuation and Exploitation of Intellectual Property”, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que à medida que as empresas adotam modelos de inovação mais abertos, baseados na colaboração e na obtenção externa de conhecimento, a gestão eficaz da propriedade intelectual torna-se essencial para proteger invenções e maximizar os benefícios das colaborações.

É importante equilibrar projetos colaborativos com esforços internos, garantindo o controle sobre inovações críticas para competitividade, ao mesmo tempo em que gerenciam adequadamente os direitos de propriedade intelectual nas parcerias.

  • P&D não avança por falta de investimento.

Embora a falta de investimento seja um desafio para setores específicos, no Brasil o problema passa também pela eficiência na alocação de recursos. De acordo com a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil aumentou os dispêndios com ciência e tecnologia de 1% para 1,3% do PIB entre 2000 e 2020, mas o impacto econômico desse aumento foi limitado devido à falta de integração estratégica entre os investimentos em inovação e as demandas de mercado. A baixa eficiência dos investimentos em P&D está associada, principalmente, à desconexão entre agendas empresariais e capacidades institucionais, segundo o World Bank Innovation Report (2022). Assim, mecanismos para melhorar a eficiência do capital alocado são tão necessários, como a modernização e digitalização de processos, melhor balanceamento do portfólio e de arquiteturas de financiamento mais sustentáveis.

  • As startups são a principal solução para modernizar o investimento em P&D.

Startups desempenham um papel importante trazendo agilidade e inovação para grandes empresas, mas não são a única resposta. Uma estratégia equilibrada deve incluir colaborações com universidades, laboratórios de pesquisa, fornecedores e até concorrentes. Além disso, internalizar as capacidades geradas por startups é muitas vezes um desafio subestimado, exigindo cultura organizacional e processos preparados para absorver inovações externas.

*Clarisse Gomes é sócia de Innovation & Ventures da Deloitte.

Referências

Global Innovation Index. (2024). Global Innovation Index 2024: Tracking Innovation Amid Global Challenges. Disponível em: https://www.globalinnovationindex.org

Statista. (2024). Technological Readiness for Net-Zero Emissions by 2050: Current Gaps and Opportunities. Disponível em: https://www.statista.com

OCDE. (2023). Valuation and Exploitation of Intellectual Property. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Disponível em: https://www.oecd.org

World Bank. (2022). World Bank Innovation Report: Improving Efficiency in R&D Investments. Washington, DC: Banco Mundial. Disponível em: https://www.worldbank.org

Fundação Getúlio Vargas (FGV). (2021). Inovação e P&D no Brasil: Impactos Econômicos e Estratégias de Eficiência. São Paulo: FGV Editora.

Compartilhar:

Com base nos seus mais de 175 anos de história, a Deloitte é a organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, com cerca de 460 mil profissionais, gerando impactos em mais de 150 países e territórios. A empresa fornece serviços de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria empresarial, assessoria financeira e consultoria em gestão de riscos para quase 90% das organizações da lista da Fortune Global 500® e milhares de outras empresas. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é líder de mercado, com mais de 7.000 profissionais e operações em todo o território nacional, a partir de 18 escritórios.

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura