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Liderança

5 min de leitura

Jovem demais para ser team leader?

Como eu me tornei uma profissional melhor depois de ter sido chamada de pirralha no ambiente de trabalho

Camilla Melo

26 de Maio

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Artigo Jovem demais para ser team leader?

O ano era 2019, um dos mais importantes da minha vida profissional, estávamos nos preparando para um grande momento da empresa: passar a ser uma Instituição de Ensino Superior (IES). Se você não faz ideia do trabalho que isso dá, já te adianto que é grande demais: infraestrutura, conteúdo, polos, governo (e eu não falei a metade).

Estávamos prontos! E foi aí que a frase “treino é treino, jogo é jogo” fez mais sentido que nunca. Era só esperar as comissões designadas pelo MEC chegarem no nosso polo principal para nos avaliar. Eles olham tudo, questionam, analisam, avaliam a qualidade dos cursos e a estrutura da instituição. De fato, fazem um excelente trabalho.

Um desses momentos de avaliação é a chamada “Equipe Multidisciplinar”, onde eu e os outros líderes dos mais diversos segmentos do que será a IES nos reunimos para apresentar como os processos são estruturados e realizados. Depois da apresentação, os avaliadores fazem uma série de perguntas para tirar suas dúvidas sobre as fases, times, operações e, também, checar a veracidade das informações apresentadas. Gravem essa última parte, ela é muito importante.

Por estar bastante envolvida no projeto de credenciamento – isso era parte considerável do que eu fazia todos os dias – eu conseguia responder muitas das perguntas que os avaliadores faziam para a equipe multidisciplinar. Até que chegou um momento em que um dos avaliadores, o mais “durão” deles, solta a seguinte frase: “Agora quero ouvir de seus colegas. Para vocês, como é trabalhar com uma pirralha como ela?”.

Seguiram-se aqueles segundos de silêncio que gritavam: “é sério que escutamos certo?”. Até que uma querida colega de trabalho se posicionou em minha defesa, ressaltando como tinha sido trabalhar comigo num tom muito positivo. Seguimos o baile como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu: um dos episódios que mais me fez crescer, enquanto pessoa e profissional. Por isso, quero dividir com vocês as lições aprendidas desse momento.

1. Ter o apoio e parceria dos seus colegas de trabalho faz toda a diferença. Lembra que, assim que o avaliador fez essa pergunta, uma amiga de trabalho respondeu em minha defesa? Ela foi só a primeira. Depois da reunião, por exemplo, a maior parte dos executivos da empresa veio falar comigo e reforçar que aquilo não queria dizer absolutamente nada sobre a qualidade do meu trabalho. Enfim, saber que eu podia confiar nos meus colegas de trabalho e que a recíproca era verdadeira deu um quentinho no coração.

2. Ninguém sabe mais do seu trabalho que você mesmo. É isso mesmo! Processos, especificidades, acertos, gargalos. Ninguém entende melhor do seu escopo e do caminho para as suas entregas que você mesmo. Confie nisso. Você sabe as respostas. Inclusive, você poderia ensinar muita gente sobre as habilidades, competências e tecnicidades do seu trabalho. O(a) professor(a) é você. Quando isso fica entendido, tudo fica mais fácil, sabe por que? É quando o fator segurança entra em campo e, olha, este faz uma diferença danada.

3. A gente só se importa com a opinião dos outros quando a gente tem dúvidas se o que foi dito é verdade ou não. Vamos supor que você tenha 1,50 de altura. Se eu te disser que você é super alto(a), você acreditaria? Provavelmente não, porque você não tem dúvidas dessa sua característica. Se você foi campeã(o) de várias olimpíadas de matemática e eu digo que você é bem ruim na matéria básica, o que você faria? Provavelmente, riria da minha cara, não é mesmo? Isso acontece porque, em primeiro lugar, VOCÊ não duvida de você mesmo.

Então, quando você se pegar numa situação de comentários dolorosos, há duas opções: a) Refletir se aquele comentário é verdadeiro, se impacta os seus resultados e, se sim, agir para consertar; b) Sorria, agradeça o “feedback” and keep up the good work. Pra mim, isso foi libertador.

4. Podem até te julgar mal, mas não podem fazer o mesmo com o sucesso dos resultados. A única coisa que ele podia falar sobre mim era sobre a minha baixa idade. Ele não podia dizer que o conteúdo não estava pronto. Ele não podia questionar a qualidade da nossa estrutura. Ele não podia dizer que tudo o que fizemos estava aquém do esperado. Ou seja: ele não podia questionar os nossos resultados. Perceba que quando uma pessoa quer rebater a sua opinião, mas não tem argumento válido, começa com falas do tipo: “Você tem muito o que viver ainda”; “Você é muito novo/nova. Não sabe o que está falando”; “Se você tivesse passado pelo que passei, não pensaria dessa forma”. Tudo isso são válvulas de escape para fugir daquilo que não se consegue contestar: argumentos e resultados.

Bom, no final das contas, ele até se desculpou e o temos, hoje, como um importante parceiro para acompanhar o que fazemos, contribuindo para que construamos algo, realmente, incrível. Na época, ele disse que agiu dessa forma porque precisava testar a veracidade do que estávamos apresentando porque era algo realmente muito diferente e encantador. Então, para descartar a possibilidade daquilo tudo ser um grande teatro, ele testou as pessoas no “fora do roteiro” pra ver se haveria desalinhamentos. Não houve.

Algo que ficou muito marcado em mim foi a seguinte fala dele: É muito atípico, numa faculdade, vermos pessoas tão jovens e outras tão experientes ocupando cargos de liderança e tendo os mesmos níveis de responsabilidade. Geralmente, são todos muito mais experientes e não há muito espaço pra quem “está chegando”. Por favor, não percam isso. Tenho certeza de que esse foi um fator crucial para apresentarem o trabalho muito bem feito que fizeram até aqui.

Com isso, deixo aqui a última lição aprendida: 5. A diversidade, meus amigos, é muito poderosa e nós estamos apenas começando.

Com carinho, da jovem líder e pirralha nas horas vagas.

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Autoria

Camilla Melo

Especialista em gestão de projetos pelo COPPEAD UFRJ e coordenadora de operações pedagógicas na Faculdade Descomplica, respondendo por toda a produção de conteúdo acadêmico de graduação e pós-graduação. Vencedora do Prêmio Valuable Young Leader.

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