Em um mundo em constante transformação, no qual a tecnologia e as novas demandas de mercado tornam os conhecimentos obsoletos em uma velocidade nunca vista, o aprendizado contínuo das pessoas deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade. Nesse contexto de rápidas mudanças, emerge o ‘extreme learner’, um profissional com habilidades de aprendizado excepcionais. Aqueles que assumem total responsabilidade pelo próprio aprendizado, sem esperar que o conhecimento lhes seja entregue.
O extreme learner busca ativamente oportunidades de desenvolvimento, diversificar suas fontes de aprendizado e se estruturar com autonomia. O aprendizado, para esses profissionais, é uma jornada constante de autodescoberta e expansão de horizontes.
Entre suas principais características, destacam-se: a autonomia, pois eles definem seus próprios currículos e traçam suas trajetórias de aprendizado; a mentalidade de crescimento, já que compreendem que o aprendizado é um processo interativo e adaptável e a cada nova descoberta redefine o percurso, garantindo uma evolução contínua; o compartilhar conhecimento, pois entendem que aprender em rede é um diferencial e compartilhar informações fortalece comunidades e solidifica o aprendizado próprio; diversificar fontes, porque eles exploram livros, cursos online, experiências práticas, networking e interação com comunidades especializadas. Além disso, valorizam conexões com iniciativas, organizações e eventos que possam enriquecer seu repertório.
Os extreme learners também têm adaptação contínua, por isso modificam seus ambientes para favorecer o aprendizado, seja participando de grupos de estudo, imergindo em novas realidades ou experimentando diferentes abordagens.
São humildes o suficiente para questionar suas próprias crenças e aprender com os outros, reconhecendo a própria ignorância e se mostram sempre disponíveis a novas perspectivas, praticando self-management, buscando feedbacks e combatendo vieses inconscientes. Mantêm a confiança em si mesmos e veem desafios como aprendizado.
Outra característica desse perfil de profissional é a habilidade para manter o equilíbrio entre solitude e conexão, já que compreendem bem que o foco é um recurso valioso e sabem alternar momentos de estudo individual com trocas enriquecedoras em grupos. Também dominam o aprendizado online e offline, com ferramentas digitais para expandir conhecimentos. Apesar disso, valorizam interações presenciais e experiências que estimulam a criatividade e a serendipidade, que é a soma do acaso com o conhecimento adquirido.
De acordo com o Institute for the Future (IFTF), estamos vivendo uma transformação na forma como aprendemos. O aprendizado está se tornando mais fluido, integrado e contínuo. Nesse novo contexto, os extreme learners estão mais bem preparados para prosperar, graças às habilidades e a mentalidade necessárias para navegar por um mundo cada vez mais volátil e incerto.
O IFTF destaca ainda que as habilidades mais valorizadas no futuro incluem praticar o Sensemaking, ou seja, estruturar o desconhecido para tomar decisões. Ao se deparar com uma nova tendência, é preciso quebrá-la em partes menores e criar um plano estruturado para entender e aplicá-la na sua realidade. Por exemplo, quando um gestor de supply chain percebe que a IA está impactando sua área, ao invés de ignorar essa mudança, ele começa a mapear de que forma a tecnologia pode otimizar processos logísticos e identificar cursos e especialistas para aprofundar seus conhecimentos.
Para profissionais 45+, a necessidade de se reinventar torna-se ainda mais evidente. Enfrentando estereótipos e desafios de requalificação, esses profissionais encontram na mentalidade do extreme learner a chave para continuarem relevantes, desde que mantenham:
- Habilidades híbridas, que combinam experiência setorial com novas competências digitais;
- Educação continuada, com investimento em micro certificações e aprendizado rápido, por exemplo, inscreva-se em cursos curtos e de alta aplicabilidade, como os oferecidos pelo Google, Coursera e LinkedIn Learning.
- Rede intergeracional e multidisciplinar em expansão: participar de grupos interdisciplinares, como meetups e masterminds, para troca de conhecimento.
- Fortalecer sua marca pessoal, a partir da atualização de currículo e demonstração de capacidade de adaptação e inovação. Por exemplo, você pode começar a compartilhar insights sobre liderança no LinkedIn, atraindo convites para palestras e oportunidades de consultoria. Para isso, escolha uma plataforma digital e comece a compartilhar suas experiências e aprendizados, fortalecendo sua presença profissional.
- Invista no autogerenciamento (self-management): adote práticas de gestão emocional e organização, como meditação e listas de tarefas inteligentes, como aplicar, por exemplo, técnicas de mindfulness, que melhoram a clareza mental e a produtividade.
Ser um extreme learner é uma escolha de mentalidade em qualquer idade profissional. No Brasil, onde desafios estruturais demandam inovação e resiliência, quem cultivar essa postura estará mais bem preparado para liderar transformações.
A busca incessante por conhecimento transcende a simples competitividade, impulsionando a geração de impacto e a construção de um futuro mais dinâmico e abrangente. Isso se enquadra no conceito de trabalhabilidade que discutimos no artigo anterior e que diz respeito à capacidade de uma pessoa de utilizar a sua inteligência de jornada profissional para gerar valor com visão de futuro. Afinal, o aprendizado não é um destino, é um percurso sem fim. Não está na hora de ajustar esse roadmap?