Cultura organizacional

Quando a era do encorajamento vai chegar?

O movimento de encorajamento abre espaço para que as lideranças exponham conversas difíceis, celebrem as conquistas dos colaboradores, os incentivem a sair da zona de conforto e a compreender que produtividade é sobre fazer melhor
Stela Nesello é cofundadora e facilitadora de processos e grupos da Laborama Inteligência Colaborativa e da Agência Incomum, onde atua como diretora de atendimento, desenvolvendo projetos de comunicação para empresas de todo Brasil.

Compartilhar:

O mundo corporativo ainda está sob os efeitos vividos na pandemia. As empresas que retornaram para o presencial hoje lidam com pessoas mais sensibilizadas e ansiosas. As que aderiram definitivamente ao home office oscilam entre o conforto gerado às equipes sem perdas de produtividade e a sensação de ter pessoas menos conectadas, mais voláteis e amedrontadas.

Do lado de cá, com o olhar de empresária, líder e tendo contato com empresas de médio e grande porte, observo um sentimento de impotência e crise de confiança. Não existe, no mundo, alguém que traga garantias sobre o futuro. Vejo muitos líderes frustrados, olhando para as entregas desejáveis, se sentindo questionados e lidando com as próprias dores e a de seus liderados.

A pandemia também realçou diferenças importantes entre organizações. Algumas conseguiram dar um enorme suporte a suas equipes. Outras tiveram que lutar para sobreviver. O que traz à tona questionamentos: existe a possibilidade de oferecer bem-estar de maneira equânime para colaboradores de diferentes realidades no mundo organizacional?

Precisamos aprofundar o debate para não cedermos à tentação de acreditar que uma jornada semanal de quatro dias seja suficiente para o bem-estar desejado. Temos inúmeras mazelas sociais. Não podemos pensar só na cereja do bolo se o merengue estiver desandando. Educação básica, direito à alimentação saudável e à saúde são primordiais na escala de necessidades humanas.

O médico Marcos Henrique Mendanha, durante o 1o Summit Internacional de Segurança Psicológica, realizado em São Paulo, no último setembro, ressaltou que vida e trabalho estão constantemente se influenciando. No espírito do tempo atual não existe mais divisão.

E na esteira desse pensamento de Mendanha, lembro do termo BANI — acrônimo para frágil, ansioso, não linear e incompreensível. Quando começou a ser utilizado de forma figurativa para descrever características de comportamento, evidenciou um sentimento de fragilidade que nos conecta como humanidade. E talvez esse seja o ponto: somos todos seres humanos. E quando olharmos para as organizações, os líderes são “gente como a gente”.

Quando as conversas vão além dos crachás e lideranças conseguem se expor além das armaduras, um grande passo começa a ser dado: deixar vir à tona as experiências pessoais e os erros. Isso não é só uma questão de vulnerabilidade, é um ato de coragem. Líderes esquecem de ser quem são por medo de errar e de se posicionar. O primeiro passo, portanto, é olhar e cuidar de si.

Nesse movimento de encorajamento, abrir espaços para que as conversas difíceis sejam expostas é também papel dos CNPJ’s. Afinal, estou dando o melhor direcionamento ao meu negócio? Ofereço clareza sobre o que e para quem fazemos? Crio espaço para que as pessoas se desenvolvam e aprendam com os erros? E ainda: deixo claro os valores inegociáveis?

Se já vínhamos vivendo há alguns anos as instabilidades de um mundo volátil, talvez o período pandêmico tenha deixado uma sensação de que bem-estar seja abrir as questões pessoais e chorar no ambiente de trabalho. Entramos no limite tênue de confundir os conflitos pessoais com os conflitos da organização. Não basta ter acolhimento para questões íntimas e as pessoas não conseguirem tratar de assuntos mais difíceis dentro do ambiente de trabalho.

Isso dispensa o acolhimento? Obviamente que não! Continua sendo necessário trazer transparência, acordos claros, feedbacks honestos e frequentes, além de promover qualidade nas relações. Ou seja, tratarmos adultos como adultos.

O encorajamento acontece quando celebramos as conquistas, incentivamos as pessoas a se experimentarem em outras áreas com a segurança para identificar e cometer falhas. Encorajar é trazer a compreensão para o time de que produtividade não é sobre fazer mais, mas sobre fazer melhor. E ver os resultados alcançados é fundamental para nossa autoestima e a sensação de sermos capazes de realizar algo. Uma realização que pode trazer sentido para nosso ofício diário.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Finanças
Com soluções como PIX, contas 100% digitais e um ecossistema de open banking avançado, o país lidera na experiência do usuário e na facilidade de transações. Em contrapartida, os EUA se sobressaem em estratégias de fidelização e pagamentos crossborder, mas ainda enfrentam desafios na modernização de processos e interfaces.

Renan Basso

5 min de leitura
Empreendedorismo
Determinação, foco e ambição são três palavras centrais da empresa, que inova constantemente – é isso que devemos fazer em nossas carreiras e negócios

Bruno Padredi

3 min de leitura
Empreendedorismo
Em um ambiente onde o amanhã já parece ultrapassado, o evento celebra a disrupção e a inovação, conectando ideias transformadoras a um público global. Abraçar a mudança e aprender com ela se torna mais do que uma estratégia: é a única forma de prosperar no ritmo acelerado do mercado atual.

Helena Prado

3 min de leitura
Liderança
Este caso reflete a complexidade de equilibrar interesses pessoais e responsabilidades públicas, tema crucial tanto para líderes políticos quanto corporativos. Ações como essa podem influenciar percepções de confiança e coerência, destacando a importância da consistência entre valores e decisões. Líderes eficazes devem criar um legado baseado na transparência e em práticas que inspirem equipes e reforcem a credibilidade institucional.

Marcelo Nobrega

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Hora de compreender como o viés cognitivo do efeito Dunning-Kruger influencia decisões estratégicas, gestão de talentos e a colaboração no ambiente corporativo.

Athila Machado

5 min de leitura
ESG
A estreia da coluna "Papo Diverso", este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do "Dia da Pessoa com Deficiência", um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

Carolina Ignarra

5 min de leitura
Empreendedorismo
Saiba como transformar escassez em criatividade, ativar o potencial das pessoas e liderar mudanças com agilidade e desapego com 5 hacks práticos que ajudam empresas a inovar e crescer mesmo em tempos de incerteza.

Alexandre Waclawovsky

4 min de leitura
ESG
Para 70% das empresas brasileiras, o maior desafio na comunicação interna é engajar gestores a serem comunicadores dentro das equipes

Nayara Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
A liderança C-Level como pilar estratégico: a importância do desenvolvimento contínuo para o sucesso organizacional e a evolução da empresa.

Valéria Pimenta

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.

Valeria Oliveira

6 min de leitura