Desenvolvimento pessoal

Quem comanda nossas decisões?

Por que temos reações que aparentemente não controlamos? Como e o que fazer para mudar comportamentos indesejados?
Tem mais de 30 anos de experiência em gestão, negociação e liderança. Presta consultoria para grandes empresas e já treinou milhares de pessoas. É reconhecido por seu consistente embasamento teórico e considerado um dos mais capacitados profissionais em desenvolvimento humano no país. Autor de 5 best-sellers, já vendeu mais de 350 mil exemplares. Ferraz possui grandes cases de sucesso e atende clientes, como Banco do Brasil, Bayer, Basf, Bourbon Hotéis, Correios, Dell Anno, Fiat, Livrarias Curitiba, Petrobras, Sadia entre muitos outros.

Compartilhar:

A resposta a todas essas questões está em nosso cérebro. Compreender seus dois grandes mecanismos de funcionamento é a chave para termos uma vida mais consciente e produtiva, como você entenderá neste artigo. 

## O sistema automático e o sistema analítico

Grande parte de nosso cérebro, por ser muito antiga, continua agindo, ainda hoje, como há milhões de anos. Nosso comportamento, portanto, tem um poderoso componente automático, que atua independentemente de nossa vontade consciente, e um frágil componente racional, que age segundo nossa escolha.

Cientistas renomados, entre eles Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, resumem o funcionamento do cérebro em dois grandes modos de ação: o *sistema automático* e o *sistema analítico:*

– O **sistema automático** ou **involuntário** é exercido pelas partes mais antigas, grandes e volumosas do cérebro, ou seja, o tronco encefálico, o sistema límbico e uma parte do córtex. Ele comanda nosso funcionamento inconsciente e, segundo se estima, é o responsável pela maioria de nossas ações. Portanto, exerce influência muito maior do que imaginamos em nossa vida.

– O **sistema analítico** ou **voluntário** é exercido pelo nosso córtex pré-frontal e é responsável pela tomada de decisões racionais. Estima-se que temos baixa percepção do funcionamento cerebral, ou seja, proporcionalmente, poucas de nossas ações são de fato tomadas de maneira lógica e racional.

## O elefante e o condutor

O psicólogo social Jonathan Haidt criou uma metáfora genial ao explicar que os dois sistemas funcionam como um  elefante, com um minúsculo condutor sentado em suas costas. O sistema automático seria um poderoso elefante, age sempre por instinto e de maneira inconsciente. O sistema analítico seria o condutor, um sujeito bem intencionado, mas frágil. 

O condutor é um analista consciente e racional, que tenta desesperadamente assumir o controle do elefante, que, por ser muito mais poderoso, ignora o condutor e faz o que quer na maior parte do tempo. Pesquisadores como Richard Thaler (outro ganhador do Prêmio Nobel de Economia) e Carl Sunstein resumem da seguinte maneira os dois modos de funcionamento do cérebro:

### Sistema automático (elefante):

– é inconsciente;
– é irracional;
– é instintivo;
– é muito antigo;
– é intuitivo;
– é rápido;
– não requer esforço;
– faz muitas coisas ao mesmo tempo;
– nunca se cansa.

### Sistema analítico (condutor):

– é responsável pelo pensamento consciente;
– é racional;
– é muito recente;
– é dedutivo;
– é lento;
– necessita de muito esforço;
– faz uma coisa de cada vez;
– cansa-se rapidamente.

## A força de vontade e o autocontrole

Na disputa pelo controle, apesar de o esforço do condutor, na maioria das vezes quem decide o que fazer é o irracional elefante. Jonathan Haidt explica que há um “gostômetro” que está sempre funcionando na mente humana,  gerando julgamentos, de preferência em relação ao que experimentamos. Isso significa que o elefante tem uma opinião preestabelecida sobre quase tudo que nos acontece no dia a dia, sendo inclusive o responsável por nossos vieses.

Por mais que nosso condutor tente não ser tão pessimista ou irrealisticamente otimista, o elefante mantém seu padrão de pensamentos.

É difícil para o sistema analítico vencer o sistema automático somente com a força de vontade, e, na maioria das vezes, é o elefante que domina o condutor. É o sistema automático quem decide, quase instantaneamente, o que é bom ou ruim, bonito ou feio, certo ou errado, divertido ou chato, interessante ou entediante.

É por isso que tentamos mudar maus hábitos e, poucas semanas (ou dias) depois, estamos de volta ao antigo modelo. O condutor planejou uma mudança de rota mais inteligente, mas o elefante insiste em trilhar o caminho que percorre há anos. 

A conclusão é que, quando somos obrigados a mudar radicalmente algum aspecto da personalidade – mesmo por poucos minutos –, ou realizar tarefas para as quais não temos a menor aptidão, gastamos uma enorme energia, que é consumida rapidamente. Isso ocorre, por exemplo, quando uma pessoa sociável e falante é orientada a permanecer calada e concentrada em tarefas técnicas o dia todo em seu ambiente de trabalho.

O esforço de permanecer quieta e concentrada é extenuante. O oposto também é verdadeiro: uma pessoa tímida fica exaurida ao ter de agir como relações-públicas ao receber visitantes na empresa, mesmo que por poucas horas. Provavelmente você já sentiu o enorme desgaste que é tentar desempenhar um papel que não tem nada a ver com seu estilo natural de ser.

Assim, conforme vão se passando os anos, nosso elefante vai ficando com características cada vez mais marcantes, definidas e relativamente estáveis. Quanto mais o tempo passa, mais automáticos tendem a ser nossos:

– preconceitos;
– julgamentos;
– vieses;
– comportamentos familiares;
– comportamentos profissionais;
– receios;
– estilos de vida (maneiras de lidar com ganhos/perdas, vitórias/derrotas, sucessos/fracassos, gasto/economia, poder/impotência etc.);
– gostos musicais;
– alimentos preferidos (e odiados);
– atração e repulsão por determinadas pessoas.

Compreender as forças inconscientes que nos dominam é o primeiro e grande passo para tomarmos decisões mais acertadas. Ao ter consciência de como funciona sua personalidade, você poderá utilizar soluções práticas para posicionar-se onde se sinta mais forte, seguro e produtivo.

Por isso é tão importante o condutor ter profundo conhecimento de como funciona seu elefante, não para mudá-lo radicalmente, mas para colocá-lo em um caminho mais produtivo. Sua personalidade mudará pouco, mas sua maneira de aproveitá-la pode mudar muito.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
Atualmente, 2,5% dos colaboradores da Pernambucanas se autodeclaram pessoas trans e 100% dos colaboradores trans da varejista disseram que se sentem seguros para ser quem são dentro da empresa.

Nivaldo Tomasio

5 min de leitura
Marketing
A integração entre indicadores de trade marketing e inteligência competitiva está redefinindo o jogo corporativo. Monitorar a execução no PDV, antecipar tendências e reagir com agilidade às mudanças do mercado não são mais diferenciais, mas exigências para a competitividade. Utilizar dados como fonte de insights estratégicos é o caminho para decisões mais rápidas, investimentos otimizados e resultados superiores.

Arthur Fabris

4 min de leitura
Liderança
O novo capítulo do mundo corporativo já começou a ser escrito. Sustentabilidade, transformação digital humanizada e agilidade diante das incertezas globais são os pilares que moldarão líderes visionários e organizações resilientes. Não basta acompanhar as mudanças; é preciso liderá-las com ousadia, responsabilidade e impacto positivo.

Luiz Soria

3 min de leitura
ESG
Apesar dos desafios históricos, as mulheres seguem conquistando espaço no setor de tecnologia, enfrentando a falta de representatividade, dificuldades de financiamento e preconceitos. Iniciativas como o W20 no G20, o PrograMaria e o RME Acelera impulsionam essa transformação, promovendo inclusão e igualdade de oportunidades.

Ana Fontes

4 min de leitura
Marketing
Segundo pesquisa do Instituto Qualibest, houve um aumento de 17 pontos percentuais no número de pessoas assistindo ao programa, em comparação à última edição. Vamos entender como o "ouro televisivo" ainda é uma arma potente de marketing brasileiro.

Carolina Fernandes

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Estratégia e execução, Gestão de pessoas

Lilian Cruz

5 min de leitura
Inovação
A inovação é uma jornada, não um destino. Evitar esses erros comuns é essencial para construir um caminho sólido rumo ao futuro. As empresas que conseguem superar essas armadilhas e adotar uma abordagem estratégica e sistêmica para a inovação terão uma vantagem competitiva significativa em um mundo cada vez mais dinâmico e imprevisível.

Guilherme Lopes

6 min de leitura
Empreendedorismo
Insights inovadores podem surgir de qualquer lugar, até mesmo de uma animação ou evento inesperado. Na NRF 2025, aprendemos que romper bolhas e buscar inspiração em outras áreas são passos essenciais para lideranças B2B que desejam encantar, personalizar e construir conexões humanas e estratégicas.

Fernanda Nascimento

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
O setor de Recursos Humanos enfrenta um momento crucial de transformação, equilibrando inovação tecnológica, diversidade e bem-estar para moldar uma cultura organizacional mais ágil, inclusiva e orientada ao futuro.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura
ESG
Não importa se a sua organização é pequena, média ou grande quando se trata de engajamento por parte dos seus colaboradores com causas sociais

Simon Yeo

4 min de leitura