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As lições dos jogos olímpicos

Aprendizados e reflexões que ficaram de legado para o mundo corporativo após o adeus dos esportistas a Tóquio

Daniela Diniz

Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou...

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O esporte sempre nos ensina. Seja individualmente, coletivamente, praticando ou assistindo, os elementos em torno de competições, desafios e superações sempre nos brinda com lições poderosas para a vida. E para a vida profissional, principalmente. Ao assistir boa parte da última edição dos Jogos Olímpicos, como brasileira, eu torci; como profissional, eu aprendi e, como uma eterna contadora de histórias, compartilho aqui algumas das reflexões que a Olimpíada de Tóquio me despertou.

## Simone Biles e a saúde mental de cada dia

A ginasta americana chegou com todos os holofotes em cima de sua performance. Esperava-se da atleta, multimedalhista no Rio e um dos nomes mais aclamados das Olímpiadas, nada menos do que ouros e recordes. Assim como esperamos algum dia de Michael Phelps e Usain Bolt ou ainda do icônico time de basquete americano da edição de 92, em Barcelona, reconhecido como dream team. Ela mesma se colocou essa pressão, ao bordar em seu uniforme o símbolo de uma cabra, GOAT em inglês, em referência à sigla para “Greatest off all Time” afirmando que só queria que as crianças não tivessem vergonha de serem muito boas ou até mesmo ótimas no que fazem. Mas ela desistiu.

Alegando preservar sua saúde física e mental, teve a coragem de abandonar as competições ao perceber que não teria condições de continuar. “Às vezes, temos de dar um passo atrás”, reconheceu a atleta. Trabalhar apenas por performance, meta e reconhecimento (seja ele financeiro, do público ou do chefe) já está mais do que provado que não traz realização.

Insistimos às vezes em assumir os papéis de super-homens e mulheres maravilhas porque fomos nos acostumando a colher bons resultados – e gostamos dos rótulos que recebemos. Batemos metas, ganhamos bônus, estrelinhas e reconhecimentos e isso sempre é muito bom, mas não é o que faz a diferença no final das contas. Biles percebeu isso num momento delicado, mas teve a coragem de dizer não e de reconhecer que – embora ela mesma tenha se autointitulado GOAT – ninguém é perfeito. E tudo bem.

## O “piti” de Djokovic

O número 1 do Tênis no ranking mundial, que já tinha afirmado antes que “lidar com pressão é um privilégio e que ele aprendeu a administrá-la”, sendo esse um caminho natural para quem quer chegar ao topo, perdeu o controle na disputa pela medalha de bronze contra o espanhol Pablo Carreno Busta.

Assim como Simone Biles, Djokovic era o favorito à medalha de ouro – e voltou para casa sem nenhuma para sua coleção de títulos. Perdeu para o espanhol e desistiu da disputa – também pelo bronze – na competição por duplas. Entre alguns erros na partida contra Pablo Busta, Djokovic chegou a jogar a raquete para longe e, em outra oportunidade, destruiu outra raquete ao batê-la com força. A pressão, meu caro Djokovic, pode ser um privilégio dos que buscam o topo, mas administrá-la não é tão simples assim. Sentir-se derrotado não é fácil em qualquer arena – seja ela política, esportiva ou corporativa – e demonstrar emoções é algo natural. Bancar o coach de autoajuda e exibir uma superioridade emocional que não é real não ajuda nem você nem outros atletas.

## A beleza da equidade de gênero

Falamos tanto sobre diversidade no mundo corporativo que ver a equidade de gênero ganhando espaço nos Jogos mostra que estamos avançando nessa pauta. Tivemos novos eventos de gênero misto em sete esportes – homens e mulheres (juntos) defendendo a bandeira de seu país em alguma modalidade: tiro com arco, atletismo, judô, tiro, natação, tênis de mesa, triatlo. Não assisti a todos, mas ver o revezamento da natação entre nadadoras e nadadores e as equipes mistas de judô lutando de igual para igual me provocou uma sensação boa. Eram homens e mulheres torcendo por si e pelo outro (a), incentivando e querendo que o próximo fosse melhor que ele mesmo (a). Afinal, somos mais fortes e muito melhores quando unimos nossas forças. Equidade é isso. Que bom que a Olímpiada tem aumentado a participação de equipes mistas e que esse exemplo ajude a derrubar os estereótipos de gênero, que classificam esportes de meninos e meninas de forma diferente.

## Trabalho com diversão

O que vimos dentre vários medalhistas brasileiros foi a leveza com que disputaram suas competições. Já falamos sobre pressão – e, claro, que eles também sofreram suas pressões, mas as declarações de Ítalo Ferreira (ouro no surf); Rayssa Leal (prata no Skate) e Rebeca Andrade (ouro e prata da ginástica) trouxeram uma palavra fundamental quando falamos sobre trabalho: diversão. Trabalhamos para pagar contas, para bater metas, para receber os tapinhas nas costas e benefícios, mas sobretudo, devemos trabalhar por realização. Esse sentimento de fazer o que amamos, de estar lá dando o nosso melhor porque é o que fazemos com paixão sempre será a melhor definição de sucesso.

## O ouro dividido

Para alguns, uma falta de competitividade; para outros, um belo exemplo de colaboração. O empate na disputa pelo salto em altura masculino entre o italiano Gianmarco Tamberi e o catari Mutaz Barshim foi uma das principais histórias da Olímpiada de Tóquio. Ao decidirem parar de disputar o primeiro lugar em um determinado momento da competição, os atletas dividiram sua medalha de ouro e subiram juntos ao local mais alto do pódio.

Em tempos de trabalho colaborativo, de gestão por squads e de pensar o talento como um ecossistema em que é muito mais interessante trabalhar juntos do que separados, vale a reflexão. Afinal, qual seria a melhor tradução para espírito olímpico do que essa?

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