Carreira

Anticarreira para seu futuro profissional

Vislumbre um futuro desejável e desenhe mapas de competência para permanecer relevante para além das inovações tecnológicas. Adote projetos de atuação futura flexível, combinada com propósito, bem-estar, adaptabilidade e capacidade de aprender ao longo da vida
Gustavo Donato é reitor, professor titular e pesquisador da FEI, onde também preside o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão; e já atuou como head de inovação. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Brasil Digital.

Compartilhar:

Embora a “carreira” seja o sonho de muitos profissionais, você se surpreenderá com as definições dos dicionários: caminho estreito, vereda, trilho. Parece algo limitante, não? A reflexão que fica é: alguém realmente quer (ou pode) ficar preso a um trilho neste mundo fluido e de fantásticas transformações em que vivemos?

Não estou defendendo que não tenhamos um plano de educação, carreira e vida. Pelo contrário, em um mundo de inúmeras e mutantes possibilidades, no mínimo devemos pensar futuros no plural e, consequentemente, vislumbrar “carreiraS”. O Future of Jobs Report 2023, recém-divulgado pelo World Economic Forum, destaca as crescentes transformações nas ocupações, com estimativa de 23% de churn estrutural no mercado de trabalho nos próximos cinco anos, além de apontar as disrupções nas competências exigidas dos profissionais do futuro, com a estimativa média de alteração de 44% delas nos próximos cinco anos.

Estamos migrando da vida sequencial do “estude 20 anos, trabalhe 30 anos e se aposente”, para a vida da coexistência harmoniosa entre lifelong learning, trabalho e bem-estar. Os autores do livro *The 100-year life* já chamavam a atenção para tal transformação e para as quatro a seis carreiras que a geração Z, por exemplo, tende a ter ao longo da vida.

Dado tal cenário, meu convite é para que vislumbremos nossos futuros desejáveis, como sociedade e indivíduos, e, ao trazê-los a valor presente, possamos desenhar e planejar nossos mapas de competências estruturantes e impacto. Alguns headhunters, como por exemplo Joseph Teperman, chegam a usar o termo “anticarreira” para representar tais “projetos” de atuação futura flexível, combinada com propósito, bem-estar, adaptabilidade às circunstâncias e capacidade de aprender ao longo da vida. Letramentos tecnológicos e em megatendências são de grande valia nesse sentido.

Temos que ter claro que o profissional do amanhã é aquele capaz de conectar áreas sinérgicas e identificar oportunidades inexploradas nas interfaces, ou além das fronteiras, dos domínios isolados do saber. Vejam quão multi e transdisciplinares são soluções para veículos autônomos, robótica inteligente, agricultura de precisão, interação humano-máquina na era da inteligência artificial (IA) generativa, entre outros exemplos – são combinados conhecimentos computacionais, das engenharias, da genômica, até da ética e das relações sociais. Ou seja, os maiores mercados das próximas décadas não são plenamente conhecidos, assim como os profissionais. E o mundo atual, incluindo os novos modelos de trabalho e a ubiquidade tecnológica como extensão das potencialidades humanas, é um convite a uma expansão de perspectivas no que se refere à atuação profissional e qualidade de vida.

Não se trata de ser especialista ou generalista. Caso não conheça o termo, vale pesquisar sobre as características do profissional “nexialista”, aquele capaz de mapear os contextos acima comentados, estabelecendo relações entre as transformações do mundo em diferentes áreas, tendências e oportunidades em termos profissionais e de mercados. Junto de uma sólida educação formal e da disciplina para o lifelong learning, esse profissional é capaz de se aprofundar no que se mostrar necessário e desenvolver competências e habilidades únicas que serão fundamentais e desejadas pelos mercados emergentes.

Tudo isso estimula a olharmos para nosso íntimo e fazermos a seguinte reflexão: o que eu tenho, ou preciso ter, de único, que vai ser altamente desejado e impactará as tendências e demandas da humanidade até 2030, 2040 ou 2050? É a partir daí que agiremos no desenho de futuros desejáveis, mapas de competências e permaneceremos relevantes para muito além da IA ou das disrupções exponenciais, com empatia para avançarmos sustentavelmente como sociedade, mas especialmente com brilho nos olhos, curiosidade e coragem para as necessárias e fluidas transformações pessoais. Teremos em mãos uma bússola atemporal para a maximização do binômio desafio-competência, restando calibrá-la por nossa visão de felicidade. Fica o convite a auspiciosos projetos multicarreira.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia e execução
Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

Norberto Tomasini

4 min de leitura