Há, como se sabe, uma enorme diferença entre gestão e liderança. Entender essa distinção é fundamental para que um líder verdadeiro possa criar organizações prósperas e longevas. Não distinguir esses conceitos pode levar a grandes equívocos. Mas será que todos entendem, de fato, essa distinção?
Quando alguém começa a ter responsabilidade pela condução de uma equipe, já não bastam mais os conhecimentos técnicos ou mesmo habilidades de comunicação, persuasão e influência. Nesse momento, abrem-se as portas de uma longa jornada de aprendizagem, onde o exercício de liderança se torna uma combinação entre técnica e “arte”.
Técnica, pois há um arsenal de conhecimentos em micro desenvolvimento organizacional que podem ser adquiridos em livros, seminários, cursos, workshops e treinamentos gerenciais.
Arte, pois a assimilação e aplicação desse conhecimento se dá de forma empírica e, muitas vezes, intuitiva, em que o espaço entre uma decisão certa ou errada se torna uma zona cinzenta, quando não nebulosa.
E é nessa combinação entre técnica e arte que se definirá um gestor ou um líder.
Para entender isso, contudo, há que se fazer uma distinção entre dois outros conceitos: recursos e humanos.
Pessoalmente, nunca gostei do termo “recursos humanos”. Além de remeter à uma época em que o trabalho (humano) era apenas um meio de produção, como capital, tecnologia, propriedade intelectual etc., para mim, ele encapsula uma visão muito estreita do que o ser humano representa no processo de geração de riqueza em uma empresa.
Longe de querer entrar em questões ideológicas ou tayloristas, afirmo que recursos são inertes, tais como matérias-primas, estoques, máquinas, equipamentos, fluxo de caixa, ativos e passivos. Recursos, portanto, devem ser geridos. Apenas isso.
Já os humanos são de outra natureza: volátil, sensível, frágil e, muitas vezes, imprevisível. São os humanos que ativam os recursos inertes, sem os quais nada seria produzido e nenhuma riqueza gerada. Humanos, portanto, devem ser “liderados” e não “geridos”.
A diferença não é semântica. O líder reconhece e vê o humano não como recurso, mas como elemento complexo e multifacetado – individual e coletivamente – na condução de qualquer organização.
E aqui reside a chave de uma questão mais profunda: qual a cosmovisão subjacente, consciente ou não, que define um líder e o diferencia de um gestor? Esse, me parece, é o ponto fulcral dessa questão.
A maneira como ele ou ela vê as pessoas de seu time definirá se é um líder ou apenas… um gestor. Um lidera pessoas; o outro gerencia recursos.
Não há que se subverter a lógica econômica que rege a existência e o funcionamento de uma empresa com fins lucrativos; há, sim, que se explicitar a forma como aqueles que as lideram olham para o mundo *lato sensu* e para as pessoas, especificamente. O líder, portanto, transcende o gestor. Ele vai além.
Há executivos e acionistas que entendem que a força de trabalho só responde à uma lógica do *homo economicus*, onde apenas o incentivo financeiro é que produz respostas satisfatórias. Nada poderia ser mais estreito e ultrapassado, ainda que muitos modelos organizacionais se construíram nesse paradigma.
Líderes reconhecem seu time como sendo constituído por *homo sapiens* e que, como eles mesmos, é infinitamente mais complexo e multidimensional.
Se a organização se move apenas pelo lucro, bastam gestores de *homo economicus* e sistemas de incentivos financeiros de curto e longo prazos bem montados.
Se, contudo, a organização (e seu líder) entender verdadeiramente que seu contrato social implica no reconhecimento de que (i) a empresa é uma célula que compõe o tecido de uma cadeia de valor: (ii) que várias empresas de um setor constituem, por sua vez, um órgão cuja função econômico-social e compõem um ecossistema na economia; e (iii) que todos os ecossistemas econômico-sociais somados formam o organismo socioeconômico da nação, é preciso ir mais além, e já não bastam gestores: é preciso líderes que têm que agir como homo sapiens, e reconhecer seus colaboradores como tal.
Por isso, digo: basta de gestores! Precisamos de líderes, se quisermos construir organizações mais saudáveis e longevas, uma economia mais resiliente e, por que não, uma sociedade mais justa.