Tecnologia e inovação

Características dos CEOs na era pós-digital

Desobedecer a normalidade e estabelecer conexões mais humanas serão imperativos no pós-Covid
Global CHRO da Minerva Foods e Board Member das startups DataSprints e Leo Learning. Sócio Fundador da AL+ People & Performance Solutions, empresa que atuo como Coach Executivo de CEOs formado pela Columbia University, Palestrante e Escritor. Conselheiro de Empresas certificado pelo IBGC, Psicólogo com MBA pela Universidade de São Paulo e Vanderbilt University com formação em RH Estratégico Avançado pela Michigan University. Executivo sênior com passagens em posições de Liderança Global e América Latina de áreas de Pessoas, Cultura, Estratégia e Atendimento ao Cliente em empresas como Neon, Dasa, Itaú Unibanco e MasterCard. Professor de Gestão de Pessoas do Insper e Professor convidado do MBA da FIA/USP. Colunista das revistas HSM Management e da Época Negócios.

Compartilhar:

“Meus pais me chamavam de descumpridor de regras e eles tinham razão”. Quem proferiu essas palavras foi o líder político Nelson Mandela cuja ousadia era sonhar por uma África do Sul livre de preconceitos. O atrevimento de Mandela, também conhecido como Madiba, o levou a cadeia por 27 anos. Apesar de quase três décadas atrás das grades, o líder nunca abandonou seu sonho e, em 1994, foi eleito o primeiro presidente da África do Sul pós-apartheid. 

A teimosia e a rebeldia de Madiba ajudaram o país a se libertar politicamente dos preconceitos de raça. Não tivesse persistido no que muitos chamariam de “erro”, Mandela não seria conhecido mundialmente pelos seus feitos. Nesse momento de incertezas, o mundo precisa de líderes como Madiba, que não seguem as regras preestabelecidas, que questionam o *status quo* e tentam achar a conciliação por meio do diálogo.

Carros autônomos, moedas virtuais, impressoras 3D e robôs que traduzem informações em números preditivos. Essas e outras descobertas tecnológicas estão revolucionando o mercado de trabalho e especialistas do futuro do trabalho garantem que as grandes oportunidades de inovação e negócios não nascem do senso comum, mas sim de suas fronteiras. A igualdade de pensamento não leva à disrupção. Portanto, precisamos de CEOs e líderes questionadores que saibam também dar ferramentas e oportunidades para que seus colaboradores o instiguem a pensar fora da caixa. 

E não tivemos de mudar nosso mindset rapidamente durante a crise do covid-19? Quem imaginaria que empresas tivessem de fechar seus escritórios, de um dia para o outro, e se entregar ao modelo home office. Aconteceu. Muitos olhavam desconfiados para pessoas que usavam máscara como proteção. Agora, virou padrão. Em pouco tempo, houve muita disrupção na forma como trabalhamos e vivemos.   

## Liderança em tempos de pandemia

A pandemia trouxe seu lado negro, com milhões de vidas ceifadas e pessoas não conseguindo se despedir de seus entes queridos. Mas ela também colocou em xeque alguns conceitos fortes do neoliberalismo como o individualismo, acentuando as relações humanas. Com o isolamento social, percebemos que dependemos uns dos outros. A vida ermitã não nos pertence. Somos seres sociais e a nossa clorofila são as relações e as pessoas que nos cercam.  

O CEO da era pós-digital, portanto, não pode negar essa realidade. Ele não deve agir como um super-herói, achando que é autossuficiente. Ele precisará de um conjunto de pessoas unidas sob o mesmo propósito para atingir os objetivos corporativos. Vivemos e trabalhamos em rede. Na verdade, já sabíamos disso há muito tempo, mas a Covid-19 escancarou essa realidade e também trouxe à tona a digitalização das operações. 

É claro que a digitalização exigirá transformações. Abordagens inovadoras e variadas para liderança serão necessárias para lidar com mudanças nas estruturas organizacionais e modelos operacionais. No entanto, ressalto, novamente, é preciso colocar as pessoas à frente dos processos. A transformação digital não é uma revolução das máquinas, mas do ser humano. 

## Retomada dos negócios e o lado humano das organizações 

Essa fase de recuperação da crise pandêmica fornece aos CEOs da era pós-digital um motivo convincente para engajar e fortalecer as conexões com seus colaboradores. Reconhecer e lidar com as emoções humanas básicas de luto, perda e ansiedade no local de trabalho é uma chance de reconstruir a saúde organizacional, a produtividade e o engajamento de talentos.

As empresas que se comprometerem a apoiar sua força de trabalho e cumprir essa promessa demonstrarão sua confiabilidade e reforçarão sua reputação. É hora de reforçar e/ou construir essa confiança para os desafios que virão, como a questão da saúde mental, ressaltada pela Organização Mundial de Saúde como um grande tema pós-pandemia. Todos nós sofremos de forma única nesse isolamento social e não se sabe ainda quais serão as consequências desse choque. 

Portanto, os líderes pós-digitais precisam, sobretudo, ajudar a força de trabalho a acreditar no futuro. Os funcionários consideram os líderes corporativos a fonte de informação mais confiável desde os primeiros dias frenéticos da pandemia, especialmente onde as instituições estatais têm sido menos confiáveis ​​em suas respostas.

As lideranças precisam investir tempo no cultivo de conversas abertas e compassivas sobre o que foi perdido na pandemia. Embora as conversas sobre o impacto emocional da pandemia possam parecer desconfortáveis ​​ou desnecessárias, elas ajudam a fortalecer os laços com os funcionários que apreciam a abertura dos líderes. 

Com as máquinas conduzindo muitos dos processos manuais, o dom de estabelecer conexões e relacionamentos será o santo graal dos profissionais, em especial dos líderes. Há inclusive um movimento que indica que, no futuro próximo, precisaremos de pessoas que nos escutem. Haverá um nicho ainda desconhecido no mercado de trabalho de profissionais que serão pagos para escutar e dialogar com desconhecidos. Loucura? O distanciamento social revelou que essa realidade está mais próxima do que imaginávamos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura
ESG
Prever o futuro vai além de dados: pesquisa revela que 42% dos brasileiros veem a diversidade de pensamento como chave para antecipar tendências, enquanto 57% comprovam que equipes plurais são mais produtivas. No SXSW 2025, Rohit Bhargava mostrou que o verdadeiro diferencial competitivo está em combinar tecnologia com o que é 'unicamente humano'.

Dilma Campos

7 min de leitura