Uncategorized

Entendendo o action learning

O método, desenvolvido por um astrofísico para resolver os problemas deixados pela Segunda Guerra Mundial na Europa, se tornou mais atual do que nunca, em um mundo em que a complexidade está em toda parte

Compartilhar:

“Trocar o pneu com o carro andando” já foi uma metáfora de situações absurdas, em que pessoas tentavam fazer tudo ao mesmo tempo e sem um processo lógico e, portanto, nada realizavam. Só que, hoje, o absurdo se tornou uma necessidade no meio empresarial. 

Abordagens que ajudam a produzir resultados diferentes sem deter o movimento surgem com força, sobretudo para profissionais encarregados de liderar equipes. Não é à toa que cada vez mais gestores, em todo o mundo, estão recorrendo ao action learning (AL), ou aprendizado em ação, método que foi desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial e que se mostra mais atual do que nunca. 

“O método nas empresas, que me parece o mais completo e efetivo existente, surgiu há mais de 30 anos e eu trabalho com ele há 15”, explica o norte-americano Skipton Leonard, um dos fundadores e presidente do World Institute for Action Learning, que certifica e divulga o AL pelo mundo, e coautor do livro *Leading Organizational Change Through Action Learning*. Além de treinar multiplicadores, ele também é consultor e aplica o método em empresas. 

**AS ORIGENS**

O nome “action learning”, como admite Leonard, não é dos melhores. Alguns o confundem com um método de motivação; outros o consideram um processo passo a passo de resolver problemas, como o 6-Sigma, e há ainda os que o interpretam como um sistema em que o aprendizado é mais importante do que os resultados. 

O especialista o define como “uma abordagem estruturada para lidar com questões complexas”, “uma plataforma que ajuda a encontrar soluções para problemas realmente sérios e prementes” – e “que também envolve aprendizado”. O AL começou a ser desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial para ajudar os países europeus completamente destruídos a resolver problemas complexos aos quais não era possível aplicar uma abordagem tradicional. Vendo o governo sem dinheiro para financiar especialistas nos desafios a enfrentar, o astrofísico inglês Reg Revans, da University of Cambridge, começou a pensar em uma forma de questionamento crítico para superá-los. 

A inspiração veio de uma prática em Cambridge em tempos menos sombrios, quando Revans e seus colegas se encontravam para compartilhar dúvidas e experiências e refletir sobre o aprendizado diário. O acadêmico então montou pequenos grupos em torno de problemas específicos, formados por stakeholders reunidos em volta de uma mesa, e estimulava-os a responder sobre tudo o que julgavam importante a respeito do tema. 

“O diferencial foi que Revans percebeu que as melhores soluções tinham a ver com aprendizado, ou seja, a discussão precisava levar a isso”, explica Leonard. “Ele então notou que o que as pessoas aprendiam no processo afetava a liderança e a equipe, daí surgiu o nome ‘action learning’.” Revans conectou ação e aprendizado quando disse que “não há aprendizado sem ação; não há ação sem aprendizado” e “a ação responsável é, em essência, um processo de aprendizado eficaz”. 

Na década de 1990, esse processo foi recuperado por empresas que viram nele uma poderosa plataforma de resolução de problemas, especialmente para líderes, e passou a ser disseminado principalmente nos EUA. “Nos anos 2000, já era tão frequente que começou a ser visto como uma plataforma de treinamento, mas vai muito além”, diz Leonard.

> **O ciclo da resolução de problemas eficaz**
>
> O ciclo da resolução de problemas,  central no método do action learning,  começa com três perguntas básicas feitas pelo coach: 
>
> 1.  O que está funcionando e deve continuar, melhorar ou ser ampliado? 
>
> 2.  O que pode ser melhorado, reduzido ou eliminado? 
>
> 3. O que deve ser feito de maneira  diferente? 
>
> O coach segue diversificando e aprofundando  as perguntas conforme o processo avança, seguindo a lógica do ciclo reproduzido na figura abaixo (o primeiro passo é identificar o problema). Vale lembrar que todo problema é único e afetado por uma série de fatores externos. 
>
> ![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/07838b7f-95cf-4f43-83cf-14f5948e49dc.jpeg)

**COMO FUNCIONA**

O aspecto-chave do action learning é que as equipes precisam ser autogeridas, com o objetivo de perguntar e aprender. Normalmente, são reunidas entre cinco e sete pessoas que conhecem um problema específico, em sessões de uma a duas horas. 

À frente do processo está um coach, que simplesmente faz perguntas e instiga cada participante a refletir sobre o que foi aprendido individualmente, como equipe e em geral. “O coach precisa fazer as perguntas certas, não importa se é interno ou externo, e ter algum conhecimento sobre a empresa”, afirma Leonard. As equipes costumam ser formadas por pessoas diretamente ligadas ao problema em discussão, com a participação de convidados de fora que tragam novas perspectivas. 

“Toda sessão deve ser concluída com propostas de ação, com o que se tem de fazer como resultado do processo.” O coach é treinado inclusive para perceber se há disputas entre os membros para que alguém seja o “pai da ideia”. Quando uma atitude assim é detectada, é preciso explicitá-la para o grupo, a fim de que todos decidam o que fazer. O processo pode parecer lento demais quando o problema é realmente premente, mas Leonard garante que, com ele, as equipes levam de quatro a cinco vezes menos tempo para detectar qual é realmente o problema e chegar a uma solução. “Quando se fala em discutir alguma questão em grupo, parece que demora mais, porém isso é mito: 

é impressionante como grupos chegam rapidamente à detecção do verdadeiro problema e de sua solução”, explica. “Os resultados são soluções factíveis e específicas para o problema e o aprendizado dos envolvidos.” 

**PARA CRIAR LÍDERES E PARA MUDAR**

Como qualquer tipo de problema pode ser tratado com action learning, o método serve para qualquer tipo de aprendizado. 

No entanto, há muita ênfase em sua aplicação em gestão de mudanças, sendo especialmente recomendado para desenvolver líderes, segundo o paper Leadership development via action learning, de Leonard e Fred Lang. Com quatro estudos de caso – dos Departamentos de Comércio e de Agricultura do governo dos EUA, do Natio nal Institutes of Health e da Boeing –,  ele concluiu que o método é mais rápido e bem-sucedido do que outros no desenvolvimento de líderes por três razões: 

(1) foca menos habilidades de liderança, por investir só nas que são relevantes para cada gestor; 

(2) é flexível quanto ao ambiente de aprendizado, permitindo combiná-lo com a habilidade a aprender; e 

(3) gera accountability ao tratar de um problema real. A HSM Management, Leonard acrescentou que, como o sucesso do processo está diretamente ligado à atitude do líder que participa do grupo, isso também ensina. “O líder precisa ser supervisor, não chefe microgerenciador, pois o método envolve planejamento e comunicação.”

**QUE CULTURA AJUDA?**

Na experiência do especialista, que trabalha com o método no mundo todo, o action learning funciona melhor em países com cultura menos estruturada, onde se permite a criatividade para chegar ao consenso. “É por isso que vai melhor nos EUA do que na Inglaterra”, diz Leonard. O mesmo vale para o Brasil.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura