Saúde Mental

O fardo invisível da síndrome do impostor

A percepção distorcida da pessoa que sofre com a síndrome do impostor pode criar uma série de desafios no ambiente de trabalho, como o esquivamento de oportunidades de promoção ou projetos desafiadores. Além de impactar no bem-estar emocional
Virginia Planet é sócia e cofundadora da House of Feelings, primeira escola de sentimentos do mundo.

Compartilhar:

No competitivo mundo de hoje, muitas pessoas, homens e mulheres, experimentam a síndrome do impostor, uma condição caracterizada por uma percepção distorcida de suas próprias habilidades. Embora possam possuir todas as competências necessárias para o sucesso, em muitos momentos entendem que suas conquistas são fruto de sorte ou de circunstâncias externas, e não de competência real.

Esse conceito nasceu em 1978 com as psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes que era originalmente denominado “fenômeno do impostor”.

As pessoas que sofrem dessa condição costumam ter uma autoestima baixa e uma tendência à autossabotagem. E essa autocrítica excessiva pode ter um impacto negativo significativo tanto no bem-estar emocional quanto na carreira.

No Brasil, há um número crescente de pesquisas sobre o assunto. Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) com 1,2 mil estudantes universitários, mostrou que 67% deles relataram ter sofrido com essa síndrome.

Outro estudo, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com uma amostra de 300 profissionais, mostrou que 75% deles relataram ter experimentado pelo menos um dos sintomas da síndrome do impostor no trabalho. Já um levantamento da KPMG chegou à conclusão que 75% das executivas de todos os setores já experimentaram a síndrome do impostor em suas carreiras.

## Contexto profissional
Pessoas que sofrem da síndrome do impostor frequentemente vivem sob a sombra da dúvida constante. Mesmo que tenham um histórico de realizações e competências sólidas, elas tendem a minimizar suas próprias capacidades. Essa percepção distorcida pode criar uma série de desafios no ambiente de trabalho.

Indivíduos que a experimentam subestimam seu próprio valor e têm medo de assumir riscos. Essas pessoas podem evitar oportunidades de promoção ou projetos desafiadores devido ao receio de serem expostos como fraudes, o que limita seu crescimento e as impede de alcançar o pleno potencial.

Além das implicações profissionais, a síndrome do impostor pode ter um impacto sério no bem-estar emocional. A autocrítica constante e a sensação de não ser bom o suficiente podem levar à ansiedade, estresse e até mesmo à depressão.

É importante destacar que essa síndrome não é um diagnóstico médico, mas sim um padrão de pensamento e comportamento. Muitas pessoas podem experimentar alguns dos sintomas ocasionalmente, o que é normal. No entanto, quando esses sintomas se manifestam de forma crônica e dominante, é hora de considerar a sua real presença.

## Como superar
Superar a síndrome do impostor exige conscientização e a busca de apoio, mas principalmente a busca pelo autoconhecimento. Saber sobre suas habilidades, pontos fortes e, inclusive, deficiências faz com que compreenda até onde pode aceitar desafios, quando pode superá-los e quando precisa procurar ajuda ou alianças estratégicas para atingir seus objetivos. Ter consciência de quem você é, e o que não é, te ajuda a falar abertamente, alinhar expectativas e, principalmente, ajuda a ter uma autoestima coerente com a realidade.

Leitura sobre o assunto, feedbacks construtivos, conversas com pessoas de confiança e educação sobre o assunto podem ser passos importantes. Terapia também pode fornecer ferramentas eficazes para desafiar os padrões de pensamento negativos.

No ambiente de trabalho, gestores podem desempenhar um papel fundamental no apoio aos funcionários que enfrentam o problema. Eles podem fornecer feedback baseado em fatos, elogiar realizações e ajudar a construir a autoestima dos colaboradores. O desenvolvimento de um ambiente de trabalho que valoriza o crescimento pessoal e o aprendizado contínuo também é essencial para combater essa síndrome.

Com apoio, conscientização e ferramentas apropriadas, é possível superar essa condição e alcançar todo o potencial profissional.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Inovação
O SXSW 2025 transformou Austin em um laboratório de mobilidade, unindo debates, testes e experiências práticas com veículos autônomos, eVTOLs e micromobilidade, mostrando que o futuro do transporte é imersivo, elétrico e cada vez mais integrado à tecnologia.

Renate Fuchs

4 min de leitura
ESG
Em um mundo de conhecimento volátil, os extreme learners surgem como protagonistas: autodidatas que transformam aprendizado contínuo em vantagem competitiva, combinando autonomia, mentalidade de crescimento e adaptação ágil às mudanças do mercado

Cris Sabbag

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent

Rafael Bertoni

0 min de leitura
Empreendedorismo
88% dos profissionais confiam mais em líderes que interagem (Edelman), mas 53% abandonam perfis que não respondem. No LinkedIn, conteúdo sem engajamento é prato frio - mesmo com 1 bilhão de usuários à mesa

Bruna Lopes de Barros

0 min de leitura
ESG
Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O SXSW revelou o maior erro na discussão sobre IA: focar nos grãos de poeira (medos e detalhes técnicos) em vez do horizonte (humanização e estratégia integrada). O futuro exige telescópios, não lupas – empresas que enxergarem a IA como amplificadora (não substituta) da experiência humana liderarão a disrupção

Fernanda Nascimento

5 min de leitura
Liderança
Liderar é mais do que inspirar pelo exemplo: é sobre comunicação clara, decisões assertivas e desenvolvimento de talentos para construir equipes produtivas e alinhada

Rubens Pimentel

4 min de leitura
ESG
A saúde mental no ambiente corporativo é essencial para a produtividade e o bem-estar dos colaboradores, exigindo ações como conscientização, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.

Nayara Teixeira

7 min de leitura
Empreendedorismo
Selecionar startups vai além do pitch: maturidade, fit com o hub e impacto ESG são critérios-chave para construir ecossistemas de inovação que gerem valor real

Guilherme Lopes e Sofia Szenczi

9 min de leitura
Empreendedorismo
Processos Inteligentes impulsionam eficiência, inovação e crescimento sustentável; descubra como empresas podem liderar na era da hiperautomação.

Tiago Amor

6 min de leitura