Estratégia

Peter Drucker

O fato de um pensador que nasceu em 1909 ser um booster de gestão é surpreendente – mesmo quando ele é o “pai da administração moderna”. Em termos de inovação em gestão, segundo o expert Julian Birkinshaw, significa que se está produzindo pouca coisa nova. Mas, no Brasil, a capacidade de Drucker de gerar insights que mobilizam continua inigualável.
Adriana Salles Gomes é diretora-editorial de HSM Management.

Compartilhar:

“Estudar era muito importante para Peter. Dizia, e eu assino embaixo, que ‘pessoas educadas mudarão o mundo em que vivemos e trabalhamos’. O conceito de pessoa educada, que ele introduz em seu livro Sociedade Pós-Capitalista, é o de pessoa que se educa constantemente, consciente de que nunca pode parar de aprender.”

Quem escreve isso é José Salibi Neto, amigo pessoal de Drucker e cofundador desta revista, no prefácio do livro Drucker, Forever, de 2021, escrito por Francisco Madia. Quase surpreende que um autor de gestão nascido na primeira década do século 20 ainda mereça um livro inteiro a seu respeito na terceira década do século 21, quando a gestão foi tão radicalmente transformada pelas tecnologias digitais e pela pandemia de covid-19. Isso em um país que não é o seu. E a explicação resvala de algum modo nesse personagem de “pessoa educada”.

Madia recupera uma fala de Drucker para ilustrar o conceito: “Um jovem que conheço desde que era criança e que hoje está com 40 anos é, provavelmente, o melhor radiologista de toda a Costa Leste deste país. Chefia o departamento de imagens de nossa melhor escola de medicina. Um dia eu ia fazer uma palestra perto de onde ele mora e liguei para que nos encontrássemos. Sua resposta: ‘Peter, sinto muito, estou num curso em Minnesota’. Naturalmente, perguntei: O que você está lecionando? E ele respondeu: ‘Não estou lecionando, vou ficar uma semana estudando novos aspectos da tecnologia de ultrassom. Sabe, eu deveria ter feito isso no passado, mas não pude. Agora estou atrasado’”.

Drucker, mais do que qualquer outro pensador da gestão, desperta nos gestores – e talvez sobretudo nos brasileiros – o desejo de ser “pessoas educadas”. A razão? A principal pode ser seu comportamento exemplar. Era uma pessoa de 1909 que “analisava a tecnologia como ninguém, mesmo ainda usando fax e máquina de escrever”. Isso confere a todos a esperança de que podem se manter atuais, não importa o que aconteça.

Escrever sobre Drucker em 2021 faz sentido porque esse mestre antecipou o zeitgeist da década de 2020 “como se tivesse embarcado numa máquina do tempo, vindo até o futuro, dado uma espiada e voltado para escrever a respeito”.

Como registrou Madia, Drucker falou com muita antecedência (lembre que ele faleceu em 2005), de:

– Trabalho remoto (“Qual o sentido de se continuar trazendo para os centros das cidades corpos pesando 80 ou mais quilos, se tudo o que as empresas precisam é de seus cérebros, que pesam, no máximo, 3,8 quilos?”).

– Abandono organizado para poder inovar (“todas as organizações que não conseguem livrar-se de seus produtos superados estão envenenando-se”).

– Competição por ecossistema (ao dizer que a estratégia mais lucrativa é dividir o trabalho e os ganhos com empresas parceiras – como a DuPont, não como a Xerox.).

Já ler Drucker é um booster de desempenho em 2024 (e deve continuar a sê-lo em 2050) por tudo que ele escreveu (ainda podemos descobrir mais antecipações), e também por três lições, organizadas a seguir.

## três ideias-BOOSTERS

__1. São as “pessoas educadas” que mudam o mundo.__ Drucker nos ensinou como ser uma “pessoa educada”: trata-se de estudar de fora para dentro e, depois, de dentro para fora. É o que nos dá a capacidade de ler melhor o jogo nos negócios e vencer.

Madia e Salibi dizem que Drucker tinha uma espécie de processo de três etapas. Primeiro, ele lia e estudava muito – revistas, livros etc. Então, dava um jeito de viver o que aprendia – indo visitar empresas, conversando com pessoas, participando de eventos… Por fim, escrevendo, gerava novas ideias em cima do que tinha vivido. Havia um movimento de fora para dentro na aquisição de conhecimento e de dentro para fora na criação de conhecimento novo. “Como acontece com os artistas”, nas palavras de Salibi.

__2. Gerenciar pessoas é o que realmente importa.__ Em Drucker, Forever, Madia cita uma frase de Henry Ford da qual Peter gostava bastante e não era à toa: “Você pode tirar de mim minhas fábricas, queimar todos os meus prédios, mas, se deixar meu pessoal comigo, construirei outra vez todos os meus negócios…”. Melhorar a capacidade de gerenciar pessoas era a missão de vida de Drucker. E, se nunca foi fácil gerenciar pessoas, piorou com diversidade na era da inteligência artificial, em que muitos líderes se esforçam menos secretamente crendo que tecnologias resolverão os problemas de pessoas.

__3. Os disciplinados se (auto)conhecem mais.__ Madia cita Drucker: “Sempre que tomar uma decisão importante anote o que espera que aconteça. Nove ou 12 meses depois, compare resultados e expectativas. Faço isso há 20 anos. Praticado constantemente, o método mostra em dois ou três anos onde estão seus pontos fortes”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia e execução
Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

Norberto Tomasini

4 min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura