O Vale do Silício é um dos maiores ecossistemas de inovação do mundo. Nesse pequeno espaço geográfico nasceram empresas que revolucionaram diversas indústrias. Mas qual o segredo dessa cultura de inovação que envolve o Vale? Entre as mais citadas por pesquisadores estão: 1. concentração de um pool de talentos em diversas expertises; 2. diversidade cultural; 3. acesso ao conhecimento;
4. disponibilidade de financiamento; 5. espírito de cooperação; 6. culturas corporativas que valorizam e promovem os colaboradores.
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No entanto, além de tudo isso, outros dois fatores me chamaram a atenção na minha primeira visita ao Vale cerca de dez anos atrás, e hoje eu compreendo com mais propriedade: a vida simples e a integração com a natureza. Ao contrário do estereótipo em torno de tudo o que envolve tecnologia e inovação (ambientes urbanos, cidades inteligentes, serviços automatizados), o estilo de vida no Vale é extremamente simples. As cidades são pequenas, o comércio é local, as casas são modestas, tudo é fácil e nada é sofisticado como nas grandes cidades ou em outros polos de inovação. Depois de mais de um ano vivendo aqui, eu consigo entender como esse estilo de vida, que oferece espaço físico e mental para a reflexão e a criação, é também um fator que impulsiona a inovação.
A integração da natureza à vida foi um segundo fator surpreendente. A baía de São Francisco, as montanhas que cercam o vale, as praias do Pacífico, os lagos e as estações de ski em Lago Tahoe, a três horas e meia de distância, não são somente parte da geografia local: são realmente aproveitados pelas pessoas. Nos inícios das manhãs e nos finais de tarde, as montanhas estão repletas de ciclistas; as trilhas, de corredores; e os lagos, de velejadores.
Ao estudar o assunto, encontrei diversos estudos que comprovam a relação entre natureza e criatividade. Não por acaso tantos artistas, pintores, poetas e
filósofos buscam inspiração longe da distração das grandes cidades. Segundo pesquisadores, o ambiente urbano causa uma certa desordem em nossas mentes. A abundância de informações básicas que nossos cérebros precisam processar em uma cidade leva à sobrecarga de informações e à fadiga mental. Isso atrapalha a criatividade, pois nosso inconsciente está muito estressado para processar as ideias existentes e ser suscetível a criar novas. Os ambientes naturais são o tipo certo de remédio para esse cansaço mental.
Um estudo dinamarquês de 2015, de Plambech e Bosch, mostra que a natureza desempenha um papel especialmente importante na identificação dos problemas e no fomento das ideias (fases de preparação e incubação do processo de criação). A pesquisa indica que a natureza fornece às pessoas um desejo de explorar, libera a imaginação e não força seus pensamentos em uma direção específica. Outros estudos indicam que uma pessoa que passa apenas cinco minutos em ambientes externos, em um parque urbano, observando árvores e pássaros por exemplo, aumenta os níveis momentâneos de bem-estar mental.
Vida mais simples e contato com a natureza: é bem provável que esse seja mais um dos segredos do sucesso do Vale do Silício.