Uncategorized

Nativos digitais no comando: nada será como antes

As mudanças no trabalho e na gestão de pessoas serão radicais | por Adriana de Souza
é docente da Fundação Getulio Vargas, formada em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e com Ph.D. na Universidad de Granada, Espanha. É sócia da consultoria de recursos humanos P.A. & Partners.

Compartilhar:

O poder da internet ainda é subestimado. As novas formas de trabalho e interação entre as pessoas, ao que tudo indica, não se encaixarão nos paradigmas atuais. O mundo ainda é liderado por migrantes digitais. Quando os nativos digitais assumirem o comando das empresas, das universidades e até mesmo dos países, as mudanças serão muito mais drásticas e aceleradas. O grau de conectividade global terá impacto transcendental sobre as economias, as moedas, a estrutura de trabalho, os modelos de gestão e, possivelmente, o conceito de nação.

Dizia Peter Drucker que 50 anos de mudanças acumuladas na revolução industrial foram só preparativos para as ferrovias, as quais, em cinco anos, geraram uma nova economia e viraram do avesso a geografia mental das pessoas. Agora, de forma análoga, o e-commerce destruiu o conceito de distância. Então, imagine o que acontecerá quando vivenciarmos a dimensão plena do comércio eletrônico e da internet em 40 anos, quando os nativos digitais comandarem tudo. 

A possibilidade de os prestadores de serviços terem contato direto com o cliente final por meio dessa ferramenta poderosa já está abrindo inúmeras oportunidades para milhares de pequenas empresas e comunidades de negócios eletrônicas.

No futuro, essa tendência deve levar a um capitalismo comunitário, em que a acumulação de riqueza será questionada e substituída pela ideia de viver experiências. O próprio trabalho será uma experiência – e deve ser a melhor de todas.

Diante disso, duas questões “se colocam”:

**1) Como será o trabalho em 40 anos?**

Viveremos em mundo inteiramente conectado, com uma forma totalmente diferente de organização do trabalho. Vamos trabalhar para empresas de outros países e interagir com pessoas de outras culturas muito mais frequentemente do que acontece hoje.

A automação de tarefas repetitivas permitirá que todos tenhamos mais tempo para produzir com valor, concentrando-nos no que atrai a atenção e a curiosidade. O trabalho terá muito mais a ver com a investigação e o desenvolvimento do que com atividades mecânicas.

Isso demandará habilidades novas e mais complexas, muitas delas relacionadas com a coordenação das pessoas e com a melhor maneira de motivá-las a oferecer o que têm de melhor. Além disso, será importante articular esforços que promovam a adaptação a ambientes complexos.

Apesar dos benefícios que essa nova realidade vai acarretar, também haverá problemas, já descritos por muitos: desemprego estrutural, setores que vão se tornar obsoletos, habilidades que não serão mais úteis e demanda por um conjunto de novas competências a que universidades e empresas não conseguirão responder rapidamente. Tornar-se obsoleto será o maior medo de profissionais e organizações, mas isso também vai motivar todos a se superarem.

Em uma época em que criatividade, flexibilidade, sustentabilidade, tecnologia, custos marginais e comunidade serão conceitos importantes, o único recurso escasso e, consequentemente, valioso será o potencial humano. As empresas deverão entender que humanizar o trabalho não será apenas uma opção, mas o único caminho para atrair, desenvolver e reter pessoas talentosas. E toda pessoa é um talento. O desafio é aprender como se adaptar a mudanças em situações complexas. Quanto mais complexo é um ambiente, mais dinâmica e adaptável deve ser a resposta a ele.

**2) Como será a gestão de pessoas?**

A pressão para sobreviver em um ambiente complexo, para oferecer serviços inovadores ou serviços melhores com custos menores forçará muitas empresas a se reinventarem. Somente um alinhamento efetivo entre visão, processos estruturais e, principalmente, pessoas será capaz de possibilitar que isso aconteça.

Os profissionais de RH devem dar apoio a esse processo, assim como à criação de um estilo de liderança apropriado para os cenários complexos em que as respostas não estão dadas, em que a criatividade e a inovação são estimuladas, em que os esforços são sinérgicos e em que valem sobretudo o talento e a conexão emocional das pessoas com o trabalho. A área de RH deve atuar como parceira estratégica, e saber como articular liderança, comunicação e consciência em favor de resultados eficazes lhe será essencial.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Empreendedorismo
Esse ponto sensível não atinge somente grandes corporações; com o surgimento de novas ferramentas de tecnologias, a falta de profissionais qualificados e preparados alcança também as pequenas e médias empresas, ou seja, o ecossistema de empreendedorismo no país

Hilton Menezes

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial Generativa (GenAI) redefine a experiência do cliente ao unir personalização em escala e empatia, transformando interações operacionais em conexões estratégicas, enquanto equilibra inovação, conformidade regulatória e humanização para gerar valor duradouro

Carla Melhado

5 min de leitura
Uncategorized
A inovação vai além das ideias: exige criatividade, execução disciplinada e captação de recursos. Com métodos estruturados, parcerias estratégicas e projetos bem elaborados, é possível transformar visões em impactos reais.

Eline Casasola

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA é um espelho da humanidade: reflete nossos avanços, mas também nossos vieses e falhas. Enquanto otimiza processos, expõe dilemas éticos profundos, exigindo transparência, educação e responsabilidade para que a tecnologia sirva à sociedade, e não a domine.

Átila Persici

9 min de leitura
ESG

Luiza Caixe Metzner

4 min de leitura
Finanças
A inovação em rede é essencial para impulsionar P&D e enfrentar desafios globais, como a descarbonização, mas exige estratégias claras, governança robusta e integração entre atores para superar mitos e maximizar o impacto dos investimentos em ciência e tecnologia

Clarisse Gomes

8 min de leitura
Empreendedorismo
O empreendedorismo no Brasil avança com 90 milhões de aspirantes, enquanto a advocacia se moderniza com dados e estratégias inovadoras, mostrando que sucesso exige resiliência, visão de longo prazo e preparo para as oportunidades do futuro

André Coura e Antônio Silvério Neto

5 min de leitura
ESG
A atualização da NR-1, que inclui riscos psicossociais a partir de 2025, exige uma gestão de riscos mais estratégica e integrada, abrindo oportunidades para empresas que adotarem tecnologia e prevenção como vantagem competitiva, reduzindo custos e fortalecendo a saúde organizacional.

Rodrigo Tanus

8 min de leitura
ESG
O bem-estar dos colaboradores é prioridade nas empresas pós-pandemia, com benefícios flexíveis e saúde mental no centro das estratégias para reter talentos, aumentar produtividade e reduzir turnover, enquanto o mercado de benefícios cresce globalmente.

Charles Schweitzer

5 min de leitura
Finanças
Com projeções de US$ 525 bilhões até 2030, a Creator Economy busca superar desafios como dependência de algoritmos e desigualdade na monetização, adotando ferramentas financeiras e estratégias inovadoras.

Paulo Robilloti

6 min de leitura